terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Entrevista Completa - Roadie Crew nº240

O novo lançamento do Stomachal Corrosion foi via Cogumelo Records. Além de toda produção gráfica especial desse álbum, o que ele traz de diferente do “Transtorno Obsceno Repulsivo”?
Charlie Curcio: Acredito que este material está mais homogêneo em questão de estilo em relação ao nosso primeiro CD. Tivemos tempo para irmos amadurecendo um estilo dentro de nossas possibilidades, na forma de compor e executar. E também é nossa melhor produção e assessoria que já tivemos até hoje.

Com o novo álbum em mãos, as possibilidades para o SC podem ser ampliadas? Farão uma turnê de divulgação?
Charlie: A expansão do nome da banda já chegou a um patamar incrível. Estar nos catálogos da Cogumelo e GreyHaze (EUA) faz este efeito, pois são gravadoras com larga história e tradição. Sobre turnê, você sabe como poucos as dificuldades que esta prática carrega consigo aqui no Brasil, principalmente quando temos tantos compromissos particulares que nos podam para certas ações. Mas, estou procurando sempre fechar datas ao vivo em várias cidades para divulgarmos o novo álbum.

Sabemos que a Cogumelo foi importantíssima na cena nos anos 80 e 90 e está relançando muitos itens preciosos de seu catálogo. A tradição da gravadora e, principalmente, pela grandiosidade do catálogo contribui para colocar o novo álbum em outro patamar de lançamentos da banda? Ser um contratado da Cogumelo Records ainda faz diferença na cena?
Charlie: O trabalho na Cogumelo é constante desde seu primeiro dia e com predominância hoje para os relançamentos de alguns itens de seu riquíssimo catálogo recheado de clássicos e alguns lançamentos de novos títulos inéditos. Este respaldo nos dá uma moral de fazermos parte deste catálogo. Sem dúvida este fato ocorrido com o SC me enche, particularmente, de satisfação e orgulho. E estar na Cogumelo é importante, tendo em vista que todos os dias várias bandas entram em contato enviando material para audição visando contrato de lançamento.



O SC é quase "nômade". Começaram na Paraíba, depois migraram para o interior de MG e agora em BH. Essa mobilidade foi legal para banda?
Charlie: Sempre digo que, atrelado ao desinteresse, à falta de profissionalismo e seriedade de alguns caras que passaram pela formação, as mudanças, tanto na banda quanto de cidades e regiões, foram os maiores problemas para a banda. Isso tudo não permite um trabalho contínuo e constante. É sempre péssimo, cansativo e desgastante ensaiar tudo e montar tudo de novo. Claro que hoje as condições de vida são outras, mas tenho procurado ter paciência com algumas situações em nome da estabilidade e da continuação do trabalho. Penso que lançar um novo CD de inéditas em 2020 é primordial a manutenção da formação.

Estar baseado em uma cidade como BH, ainda faz diferença para o desenvolvimento do trabalho de uma banda underground?
Charlie: As possibilidades encontradas em uma metrópole são sempre infinitamente maiores que em qualquer interior, seja a região que for. Principalmente, que hoje muitas coisas são mais fáceis e acessíveis do que quando comecei com o SC. Mas, não se iluda! Aventureiros e derrotados existem em todos os lugares. Na cidade grande é mais fácil se desvencilhar de tais pessoas, claro. Quanto a shows, se quiser, uma banda não precisa nem sair de BH, uma vez que rolam shows constantemente por aqui. Mas ainda encontramos muito amadorismo e desrespeito com as bandas.

O SC assume-se como uma banda de grindcore, mas trafegam muito bem pelo metal, inclusive em eventos. Há alguma particularidade na cena grind que difere da cena metal? E ao assumirem-se como "grind" encontram mais aceitação na cena grind em relação à cena metal?
Charlie: Sinceramente não sei mais se somos, ou até se fomos Grind. Acabo acreditando que o som do SC é algo que flerta entre os estilos mencionados, mas acabou tendo alguma característica própria, o que vejo com enorme satisfação. Sobre aceitação, a banda sempre encontrou melhor respaldo e recebeu convites para shows, compras de material, além de respeito e apoio no meio Metal. Basta ver os eventos em que tocamos, a enorme maioria foi de cunho Metal. Não que me segreguei a este nicho, muito pelo contrário, sempre militei pelo e no Grind/HC/Punk, e mesmo assim noto que alguns "donos" deste meio fazem algum tipo de vista grossa ao evitarem de alguma forma o SC. Não que isso me afete, até porque a banda segue sua vida e hoje estamos em uma gravadora com catálogo 90% de bandas Metal e ainda temos muito apoio de Grinders, Punks de HCs. Veja nossa pequena discografia e verá quantos materiais temos por selos Grind e quantos por selos Metal. Às vezes a demagogia e hipocrisia aflora mais onde estas práticas são condenadas, o que é natural do ser humano, infelizmente.

Quais práticas?
Charlie: As de discursos e posicionamentos recheados de falsidade, demagogia, hipocrisia e boicotes fúteis. No Brasil cresceu estes pensamento e sentimento do “quanto pior e mais tosco, melhor” no meio underground. Qualquer um que queira trabalhar sério é visto como algo ruim por quem não teve ou não tem a mesma gana e seriedade no trabalho em suas bandas. Aqui parece ser proibido pedir até ajuda de custos, água ou cerveja durante a banda toca, falam mal até de material bem impresso, bem feito, etc. Daí temos este cenário com festivais acabando por falta de público e apoio, excelentes músicos migrando para outros estilos por terem passado a maior parte de suas vidas dedicadas à música pesada e hoje não terem uma profissão legal e são obrigados a tocar outros estilos para sobreviver. Enfim, é a vitória dos derrotados, e mesmo assim eles ainda reclamam.

Além dos lançamentos individuais, o SC tem vários trabalhos compartilhados. Com o Agathocles, por exemplo, que é um ícone grindcore. Por esses lançamentos, não haveria mais abertura para o StomachalCorrosion em eventos de grindcore?
Charlie – Realmente não entendo esta situação. Uma vez tentei nos incluir em um evento com uma banda do exterior e o organizador me falou que não éramos um nome interessante para tal pois não tínhamos público. Daí quando tocamos em eventos como o Roça’n’Roll, por exemplo, fomos vistos como vendidos, traidores, mercenários, etc e eu foi chamado até de Porco Capitalista. Mesmo a gente não ganhando nada para tocar ali e em outros eventos. É como já mencionei, são os donos do estilo ditando as regrinhas de acordo com suas vidinhas deprimentes e inertes. De nossa parte, a corrosão continua.

Estar baseado em uma cidade como BH ou SP, faz diferença para o desenvolvimento do trabalho de uma banda undergorund?
Charlie Curcio - As possibilidades encontradas em uma metrópole são sempre infinitamente maiores que em qualquer interior, seja a região que for. Principalmente que hoje muitas coisas são mais fáceis e acessíveis do que quando comecei com o SC, por exemplo. Mas, não se iluda, aventureiros e derrotados existem em todos os lugares, na cidade grande é mais fácil de desvencilhar de tais pessoas, claro. Quanto a shows, se quiser uma banda não precisa nem sair de BH, uma vez que rolam shows constantemente por aqui. Mas ainda encontramos muito amadorismo e desrespeito com as bandas.


Então o SC é de fato uma banda diferente e sobrevivente entre “dois mundos”. Portanto, continuar é forma de resistência da banda?
Charlie Curcio
- Acho muito legal que a banda consiga ser bem vista e de certa forma recebida por públicos com alguma distinção ideológica e musical. Para mim, particularmente, estamos todos em um único universo, o da Música Pesada, do Rock e underground no geral. Nunca gostei de rótulos e divisões. E sim, resistir fazendo este tipo de som por tantos anos e com tantas dificuldades e percalços me faz ser grato a todos meus companheiros de banda e a todos que acreditaram no nosso trabalho, e a Roadie Crew é um destes maiores parceiros que sempre tive.



(Foto: Por: Helbert Abreu. Esq. p/ Dir: Charlie - Guit., Hash Golem - Baixo, Saulo - Voc. e Fred - bat.).


sábado, 20 de outubro de 2018

Entrevista Completa - Anaites Records / Pagan Hammer Zine

ENTREVISTA com o STOMACHALCORROSION (GrindCore):
Outubro 2018.



01. Rapaz, quase duas décadas, ou mais, para eu entrevistar vocês novamente (risos)! E ai Charlie, comente ai um pouco desse retorno da banda aos estúdios, sendo que o SxCx é uma das lendas da nossa cena Grindcore, nem precisa muita apresentação, hehe!
Charlie Curcio –
Pois é, meu velho, o tempo passa e a gente permanece firme no Underground, mesmo contra a vontade de uns (risos). O StomachalCorrosion deu uma parada em 2009 depois da apresentação no festival Roça’n’Roll, Varginha, e devido a umas mudanças na minha vida pessoal. Em 2013 voltamos à ativa, mas sem muito resultado. Só em 2015 é que as coisas engrenaram de vez, já em Belo Horizonte. Aqui os trabalhos tem sido constantes para tentar recuperar o tempo perdido e tem sido muito satisfatório. A volta aos estúdios se deram pra valer e alguns materiais tem saído aqui e ali.

02. Olhando aqui a discografia da banda, passou de 40 materiais lançados, dentre DTs, Splits, LPs, CDs, Compilações, etc., sendo que a banda foi formada em 1991 e o primeiro álbum oficial lançado foi o “Transtorno Obsceno Repulsivo”, em 2005, e, recente estão com um CDzão ai fudidasso. Como avaliar a estrada percorrida pela banda até os dias atuais. Satisfatória? Há algum trampo que vocês consideram que ficou acima do esperado e há outros que desejam regravar ou ajustar gravações com bônus em lançamentos futuros?
Charlie Curcio – Eu sempre gostei de incluir o SC em alguns lançamentos, mas primando em não colocar muito som repetido o tempo todo. Isso cansa os caras que pegam material por aí. Por isso, e devido às minhas mudanças de cidade e de formação da banda, que não temos muito material lançado e o primeiro CD cheio nosso só saiu em 2005, justamente o Transtorno... O novo CD, chamado apenas StomachalCorrosion (sim, escreve-se junto mesmo), vem depois de trezes anos de muita letargia e agonia para tentar fazer algo de qualidade, e considero que conseguimos. A atual formação conta com caras experientes. O Fred, batera, já tocou em outras bandas, como a grande Mata Borrão, banda clássica em BH. O baixista, Hash Golem, já foi do Impurity e rodou em outras bandas. Só nosso atual vocal que está debutando em bandas, mas é um cara que já está no cenário há alguns anos e tem contribuído muito com sua maneira de enxergar a música pesada. Sobre materiais que pense mereçam um nova chance (risos), vejo os sons do CD 5-Way Grindattack como os que precisam de regravações, tanto que neste novo CD incluímos um som deste CD, As a Kick in Your Head.

03. O Split com o Agathocles, pra mim um dos CDs mais fodas já lançados, pois reúne duas lendas. Como surgiu o convite e após, rolou algum convite para tour com os caras ou algo na linha?!
Charlie Curcio – O lance todo começou quando o Jan me pediu para resgatar um material que estava nas mãos do Altemar Pereira, que seria um LP ao vivo, o qual chamaria Live in Stavenhagen. Entrei em contato com o Altemar, peguei o material e sugeri um Split, pois estávamos para entrar em estúdio, mas não tínhamos uma quantidade suficiente de sons para um CD cheio só nosso. O Jan, agindo estranhamente aceitou fazer um Split (risos). Ofereci o material para alguns selos, que, pra variar, já tinham uma quantidade enorme de lançamentos previstos e não poderiam nos lançar (esta é uma constante na história do SC), até que o Sérgio Giacomassi, aceitou lançar pela sua No Fashion Rec. Em conjunto com a Heavy Metal Rock. Sobre ir à Europa, não, não rolou nenhum convite pra ir por lá. E também nem tínhamos grana para tanto, portanto nem pensamos nisso. Mas, as duas vezes em que o Agathocles veio ao Brasil, o Jan demonstrou interesse em tocar conosco em ao menos uma data. Cheguei a procurar os gerentes de turnês das respectivas vindas banda, mas não consegui agendar nada para nós junto aos belgas, as bandas e todos esquemas já estava armados, estranhamente até antes de estar tudo 100% confirmado sobre a vinda do Agathocles ao Brasil. Cheguei até a pensar em organizar uma data na cidade onde morava, no sul de Minas, mas os lances entre as bandas e caras por aqui estavam tão fechados e engendrados, que acabei desistindo de participar mais efetivamente, mas fui à duas gigs deles, em Campinas e depois em São Paulo.

04. Sim, falando em tour, o SxCx já fechou alguma data de tour fora do país? Como você avalia essas parcerias de bandas para fazerem tours ou até mesmo as “agencias undergrounds” atuais que estão a auxiliar as bandas neste sentido?
Charlie Curcio –
Já cheguei a pensar muito em tocar na Europa, mas acho que ir só por ir, e não ter uma constância acaba entrando no esquecimento dos caras por lá. O legal é fazer um nome no continente primeiro, lançar e mandar material aos montes por lá. Nós nunca tivemos uma expansão boa por lá, imagino eu, então ir, passar um perrengue desgraçado, gastar dinheiro que nem temos direito, constituir dívidas na volta e nunca mais voltar para novas turnês, não vejo viável para o SC. Quem quiser fazer estas coisas, que o faça e seja muito feliz, falo por mim e por minha banda e os caras que estão comigo. Sobre as agências, bem, tem uns caras sérios, mas tem uns que mandam proposta que só em ler já desisto, pois o esquema de certos caras é tão tosco que é como se eles dissessem algo assim: Olha, eu conheço uns caras lá na Europa, vou dizer que voces estão indo pra lá, eles vão tentar colocar voces em alguns shows, mas não é certo. Certo mesmo é que voces terão que pagar todas as suas despesas de ida e volta, e também as minhas, como passagens, estadias, rango, traslado, etc". Ou seja, uns caras arrumaram um meio de fazer turismo às custas de uns mendigos de palco. Isso comigo não cola, mas mais uma vez digo: quem acha que estes esquemas são viáveis que sigam em frente e que tudo seja legal para todos.

                                                              
05. Cara, o que tu tens ouvido atualmente de bandas que você poderia indicar? Tipo, eu creio que muitos têm a visão de que o cara toca um estilo e só ouve aquilo direto. Eu mesmo curto uns progressivos e até uns harsh antigos, ou seja, curto conhecer novos estilos, mas, o SxCx foca única e exclusivamente no Grindcore para criar as linhas de suas músicas?
Charlie Curcio –
De bandas eu realmente ouço muita coisa. Quando comecei a ouvir música pesada não existiam os sons mais extremos que temos hoje e de uns tempos pra cá, então aprendi a “acumular” boas bandas para ouvir, sendo assim posso dizer que ouço de KISS e Iron Maiden, até Napalm Death e ExNxTx, de Holy Terror a Discharge, passando por Ultra Passiv, Accept, The Mist, Sarcófago, Psychic Possessor, Holocausto e por aí vai. Sobre a forma de compor... cara, confesso que por um pequeno período eu me influenciei demais por algumas bandas, e cheguei a pensar que o SC poderia estar inserido no nicho destas bandas, o que me rendeu alguns comentários pejorativos como parecendo uma cópia de algumas delas. Mas, com o tempo a gente vai crescendo, vai amadurecendo e largando as infantilidades de lado. De um bom tempo pra cá acredito que entendi o que a banda exige não só de mim, que componho boa parte do material, como dos demais membros, e nos situamos melhor na forma de fazer todo o material, procurando estar no que é nossa própria identidade, sem querer estar pendurado no saco de nenhum falso ídolo do underground.

06. Essa é clichê mas, vocês tem outros projetos musicais além do SxCx?
Charlie Curcio –
Eu já tentei começar uns projetos, mas não foram à frente, então de dedico exclusivamente ao StomachalCorrosion. Os demais caras eu acho que também não tem nada sério. O nosso baixista vez por outra toca em umas bandas. Todos somos muito concentrados no que o SC faz hoje em dia.

07. A formação atual do SxCx está fixa?
Charlie Curcio –
Espero que sim (risos). Somos hoje: Saulo nos vocais, eu, Charlie, na guitarra, Hash Golem no baixo e o Fred na bateria.

08. Rapaz, e esse box set ai via Cogumelo Records? Como surgiu a ideia e, quais os atrativos deste lançamento?
Charlie Curcio –
Eu trabalho na Cogumelo e tenho muito orgulho disso. Em algum momento em nossas conversas, joguei a proposta ao João Eduardo dele nos contratar, ele disse pra fecharmos a formação, compormos um material novo e mostrar pra ele. Isso junto ao fato de que, segundo ele mesmo, todo o material da banda que chegou na loja fora vendido, nenhum encalhou e também por sermos uma banda antiga, já rodada, com o nome consolidado no cenário e tendo aparecido em muitos lugares, isso ajudaria na questão de divulgação e apresentação deste novo CD. Sobre atrativos, o CD vem com vinte e um sons, uma arte simples, mas muito fudida feita pelo talentosíssimo Fernando Drowned. E conta com uma edição especial em cem peças de uma caixa de madeira com um CD, uma camiseta exclusiva, um adesivo e um pôster. É algo bem legal e meio raro para uma banda Grind do Brasil. Sei que alguns caras estão torcendo seus narizes para estas coisas ao nosso respeito, mas estes mesmos caras são os que pagam caro por um mero compacto de uma banda gringa. São os mesmos que criticam o preço de uma fita profissional importada, mas acham legalzinho pagar caro por qualquer coisa de alguma banda de fora e ainda postam no Facebook todos cheios de orgulhinho por ter conseguido tal material.

09. Destes 21 sons, são todas composições suas? Qual a temática lírica abordada neste CD? Pergunto, pois, em se tratando de GrindCore, logo vem à mente ser somente a barulheira/tosqueira de garotos de 15 anos tocando feito loucos, kkkk!
Charlie Curcio –
A maioria dos sons foi eu que compus e escrevi as letras, mas há música e letras de todos. E não costumo nomear cada faixa com o nome de quem compôs e escreveu a letra, ao meu ver tudo é um trabalho conjunto e pertence à obra da banda, não de uma pessoa só. Sobre os temas, temos de tudo um pouco, como críticas sociais, ironias ao meio Underground, fatos ocorridos no Brasil recentemente, como o homicídio em Janaúba. A barulheira tosca a que você se refere, deve ser quanto ás bandas Noise Core, certo? Este é um estilo que não estamos inseridos, mas é um que caminha meio que em paralelo ao Grind sim.

10. Certamente que um trabalho tão primoroso deste, e, sendo que as caixas/boxs estão sendo confeccionados no velho D.I.Y., acho massa demais isso..., essa tiragem mínima seria pelo alto custo ou por representar somente por vocês terem a noção que estas poucas são o suficiente? Ou seja, “quem pegou, pegou, quem não pegou, dançou?!”.
Charlie Curcio –
Os custos de produção destas caixas especiais são altos, demanda tempo e dedicação constante. Tudo é sempre feito por mim, pinto à mão todas, mando fazer os adesivos, os pôsteres e os corto um por um. As camisetas eu que aprimorei o desenho criado pelo Valdecir da Silva, acertei com a serigrafia que as imprimiu, e também dobrei todas e vou colocando dentro de cada caixa com os demais itens. Ou seja, Faça Voce Mesmo realmente. Sobre a quantidade, acho que cem peças é o suficiente e as pré-vendas sempre ajudam a viabilizar a produção, e confesso que quem pegou pegou, quem ficou pra pensar e ver com calma e mais pra frente, o famoso “fica pra próxima”, vai ficar sem mesmo. Mas, estes nem devem ter interesse neste lançamento, como eu já disse anteriormente, este caras sempre tem outras bandas melhores pra investirem.

11. Você citou algo que tenho ouvido muito ultimamente: “Já estou envolvido com muitos lançamentos”; mas, o que mais vejo são lançamento cooperativos, eu mesmo fiz muitos com parceria de oito selos ou mais. Você acha que este tipo de lançamento cooperativo é valido para a banda? Visto que, para os selos fica muito limitado pois o que é de certo é que divulga muito, mas, os selos ficam regrados a poucos pontos pois sendo muitos selos, maior o alcance do mesmo em questão de regiões.
Charlie Curcio –
Cara, eu acredito que cada um na sua, se alguém acha que fazer cooperativas é uma boa, que as faça. Não vejo problema nenhum em um dia o StomachalCorrosion entrar em um esquema de lançamento por vários selos. Mas, confesso que antes de receber a proposta da Cogumelo meu pensamento era de ficarmos independentes e lançarmos e distribuirmos nossos lançamentos, como temos feito com algumas camisetas, a cassete Kaos em Betim e o 3-Way Nipshit (SC, Cleptophagia e Perfusion Blood). Isso justamente por eu ter cansado de oferecer o trabalho de minha banda a muitos selos e receber a mesma respostinha de sempre. Se não tem interesse por minha banda, eu mesmo me viro e faço como puder. Nestes tempos em que tudo ofende e traumatiza esta geração de isopor, é melhor ficar quieto e trabalhar sozinho, do que mandar um FDP diferente se fuder todos os dias.

12. Meu amigo Charlie Curcio, agradeço imensamente a boa conversa e por ceder um pouco de seu tempo para responder esta humilde entrevista, agradeço e deixo aqui o espaço para o amigo relatar algo mais que tenha interesse...!
Charlie Curcio –
Muito gratificante voltar a responder uma entrevista sua, meu velho camarada Hioderman. Voce é um cara que sempre apoiou o StomachalCorrosion, mesmo não podendo sempre, mas vez por outra arruma uma maneira de ajudar. Eu que agradeço a você, ao fudido Anaites Recs/Distro/Prod/Zine pelo espaço para colocar minhas falas, que nem sempre são satisfatórias para falsos, fracos e derrotados, gente que se esconde em suas máscaras hipócritas e cheias de regrinhas pífias, boicotes infantis e discursos recheados de escrota demagogia. Sim, a corrosão segue seu curso. Abraço e vamos em frente... Sejam Felizes!

Contatos:
E-mail: charliefcurcio2@gmail.com
Site: facekook.com/stomachalcorrosion
www.stomachalcorrosion.blogspot.com.br

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Entrevista Completa - Jornal O Tempo 02 Outubro 2018.



                                                
Grindcore
Stomachal Corrosion: cada vez mais cru, sujo e visceral
Banda mineira lança segundo disco, autointitulado, pela gravadora Cogumelo Records
Nos quase 35 minutos de seu novo e autointitulado disco, o Stomachal Corrosion destila um grindcore cru, agressivo, sujo e técnico. E, diga-se de passagem, de muita qualidade, fazendo jus a tradição do fértil terreno do metal mineiro, que deu luz a nomes reconhecidos nacional e mundialmente, como Sepultura, Sarcófago, Overdose, Chakal, Sextrash, Tuatha de Danann e Drowned.
E apesar de ser apenas seu segundo álbum full-lengh, o Stomachal não é um novato da cena. Nascido em 1991, o grupo soltou no mercado seu debut, “Transtorno Obsceno Repulsivo”, em 2005, além de vários splits como, por exemplo, ao lado dos belgas do Agathocles e dos portugueses Disfigured Human Mind.
O mais recente trabalho, porém, apresenta uma nova formação, com a entrada do baixista Hash Golem, e é o primeiro lançado pela gravadora Cogumelo Records.
“Fazemos um som que hoje encaro como algo com alguma identidade própria. O legal do grindcore é que ele é um estilo que, a meu ver, tem muita flexibilidade nas linhas dos instrumentos de cordas, principalmente, onde se pode encontrar nuances de outros estilos dentro da música extrema”, ressalta o guitarrista e fundador da banda, Charlie Curcio. Completam a formação o vocalista Saulo Eustáquio e o baterista Fred Catarino.
Ao todo, são 22 faixas, incluindo uma introdução, contendo riffs pesados e vocais guturais e rasgados e de curta duração – 18 delas não ultrapassam dois minutos. As letras, por sua vez, foram escritas sob três idiomas.
“Nosso estilo músico-ideológico provém do hardcore e do punk, passando pelo metal, então nossas letras tem cunho o mais realista e social possível. Se nas artes gosto de alguma liberdade e subjetividade, nas letras, as frases são curtas e diretas. O lance de escrever em português, inglês e até esperanto se deve a essa busca por alguma liberdade na forma de compor nossa obra como um todo”, explica Curcio, que elogia o atual line-up.
“Os outros três caras da atual formação já sabiam da banda quando nos conhecemos. Isso dá uma facilidade para tudo que se refere ao trabalho como um todo. Acaba que a banda fala mais alto do que as vontades de seus músicos, ou seja, nós entendemos que há um estilo, uma linha e uma personalidade natural da banda que nós precisamos seguir e respeitar. Se mudarmos isso não será o Stomachal Corrosion”, diz.
E com o novo disco recém-saído do forno, é hora de traçar os próximos passos. “Tocar ao vivo, divulgar e vender o CD atual. Já pensamos em um novo trabalho para 2020, mas lançamentos paralelos, com gravações ao vivo e em formatos secundários, podem surgir até lá”, relata.



1-Primeiramente, nos fale como e quando surgiu a banda. Um breve histórico até chegar no resultado final que é o debut.
Charlie Curcio - O StomachalCorrosion (escreve junto)surgiu em janeiro de 1991 quando saí de uma banda que ajudei a fundar, mas havia mudado os rumos não me deixando satisfeito. Então decidi começar uma nova com uma proposta dentro do que rolava naqueles tempos em termos de música mais pesada e extrema. Desde o início estamos sempre participando de lançamentos em vários formatos não só no Brasil, quanto no exterior até chegarmos ao nosso debut CD lançado em 2005 por uma gravadora de Bragança Paulista. Este ano, 2018, lançamos nosso segundo CD cheio, desta vez pela gravadora Cogumelo Records, daqui de BH mesmo.

2-O quanto a arte tem a ver com a sonoridade e as letras.
Charlie Curcio - O universo da Música Pesada carrega consigo uma cultura própria, onde o modo de vestir, falar, as artes, as maneiras de "dançar" e curtir os shows e as canções é essencialmente peculiar e exclusivo. Muito do que se originou no meio Rocker se espalhou por todos os estilos culturais, tanto musical quanto visual. No caso do SC, costumo utilizar uma arte mais direta e simples, às vezes com certo grau de subjetividade e que gere uma identidade.

3- Aliás, nos fale de onde vem a inspiração das letras e o porquê de mesclar português e inglês.
Charlie Curcio - Nosso estilo musico ideológico provém do Hard Core e do Punk, passando pelo Metal, então nossas letras tem cunho o mais realista e social possível. Se nas artes gosto de alguma liberdade e subjetividade, nas letras as frases são curtas e diretas. O lance de escrever em português, inglês e até esperanto, se deve a esta busca por alguma liberdade na forma de compor nossa obra como um todo.

4- De que forma você rotularia a banda? Ou melhor, qual o som da banda, em sua opinião?
Charllie Curcio - Fazemos um som que hoje encaro como algo com alguma identidade própria. Sempre estivemos ligados ao estilo GrindCore, mas ao comparar com várias bandas deste estilo me pergunto se nosso trabalho realmente se encaixa ali, mesmo muitos caras nos tendo como nome no estilo. O legal do Grind é que ele é um estilo que sinto ter muita flexibilidade nas linhas dos instrumentos de cordas, principalmente, onde podemos encontrar nuances de outros estilos dentro do extremo. Desde que a bateria e os vocais sigam um certo padrão, o som acaba sendo rotulado de Grind Core. Este referido padrão iniciou-se no começo dos anos 80 e posso garantir que os rótulos nunca foram bem vistos e encorporados.

5- É um trabalho cru, direto, sujo e empolgante, tudo ao mesmo tempo, na minha opinião. Era essa a intenção desde o início?
Charlie Curcio - No início era pior... (Risos). Mas, sim, desde que pensei em fundar esta banda que o intuito era estar neste estilo, mas bebendo nas fontes de outros que sempre curti. O legal é que, mesmo com tantas mudanças, a maioria dos caras que passaram pela formação da banda eram curtidores tanto do estilo como até da banda. Os outros três caras da atual já conheciam a banda quando os conheci. Isso dá uma facilidade para tudo que se refere ao trabalho como um todo.

6- Quais são suas principais influências, Charlie, como músico?
Charlie Curcio - No início eu procurava fazer algumas letras, bases e tudo mais, me norteado em várias outras bandas que eu ouvia. Com o passar dos anos fui entendendo que o StomachalCorrosion ia formando um estilo quase próprio, mesmo sabendo que algo realmente original hoje em dia é impossível. Acaba que a banda fala mais alto do que as vontades de nós, seus músicos, ou seja, nós entendemos que há um estilo, uma linha e uma personalidade natural da banda que nós precisamos seguir e respeitar, se mudarmos não será o SC.

7- Quais os próximos passos do Stomachal?
Charlie Curcio - Tocar ao vivo, divulgar e vender o CD atual. Já pensamos em um novo trabalho para 2020, mas lançamentos paralelos, com gravações ao vivo e em formatos secundários podem surgir até lá.

                    

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Entrevista Completa - Fanzine Abdução Extrema Nº08



Abdução Extrema – Olá meu velho amigo Charlie, primeiramente eu gostaria de lhe agradecer por esta entrevista, e também, pela amizade verdadeira em todos esses anos, livre de interesses, estrelismos e exibicionismos:
Charlie Curcio - Sempre um prazer falar com voce, Mosh! Nós somos de um tempo em que amizades eram mais importantes do que defesas de teses alheias, mesmo sem nem saber se quem as defende realmente as executa. E sempre muito legal fazer aparições em suas publicações, e realmente sem estrelismos e exibicionismos, apenas dando as caras para algumas falas ácidas e desagradáveis... hahaahahah!!!

Abdução Extrema – É o que eu também as vezes acredito, nem sempre quem as defende realmente as executa! Muita contradição no movimento... Gostaria de começar esta entrevista perguntando sobre o seu começo na cena underground, como e quando você teve o seu primeiro contato? Qual foi a banda que despertou seu interesse? Seu primeiro disco ou fita... enfim, algo sobre sua trajetória!
Charlie Curcio - Eu tive muitas decepções no meio Underground, no meio do Grind e Hard Core, justamente por acreditar demais nos discursos nos palcos e nas letras que lia nos encartes dos discos. Nada diferente do que o resto da sociedade prega e faz, ou não faz. Muita união, consciência, boicotes e vida em uma linha reta e correta, mas na realidade, tudo ao contrário e ironicamente sarcástico. Sobre meu começo neste meio... bem, meus primeiros contatos com o Rock'n'Roll se deu mesmo em 1983, o que acho foi o ponta-pé inicial da maioria das pessoas de nossa geração, mas que poucas assumem, como eu sempre deixei bem claro que foi com uma fita da TDK que uma prima minha me deu com uns sons do KISS. Mas, quanto ao que me proponho a fazer, que é som pesado, rápido e sujo, calcado no Grind Core, meu contato inicial foi mesmo nos anos de 89 pra 90 quando peguei umas fitas de algum trocador de fitas daquele tempo (acho que com a Sound Riot ou Rotthenness Records), que tinha as DT de Rot, Agathocles, No Sense, Abominog, e gravações de RipCord, Raw Power, etc.

Abdução Extrema – Com certeza, o Kiss foi realmente a porta de entrada para muitos da nossa geração, embora, antes mesmo do Kiss, era comum aquelas propagandas do cigarro Hollywood com bom Rock’n’Roll. Você se lembra do primeiro show em que você foi? Quando, onde, bandas?
Charlie Curcio - O primeiro show que fui na vida foi do Sepultura, em Campina Grande, em 19 de março de 1989. Antes havia morado só em algumas cidades que não rolavam shows e em 85 eu morava aqui em BH, mas não tinha conhecimento da cena que já acontecia por aqui, me limitava só aos programas na TV e no rádio. Era um nerd metido a roqueiro nerd... hahaahahah!!!

Abdução Extrema – Além das trocas de tapes e zines, qual foi sua primeira atividade na cena e o que o motivou a iniciá-la? Banda, zine, distro?
Charlie Curcio - Minhas primeiras atividades no meio Underground foram mesmo com zines. Eu acho que a maioria do pessoal começou assim, e depois vieram as bandas. Eu fiz um zine tosco chamado Merda. Depois o Merda foi ficando "arrumadinho" e decidi mudar o nome para Crazy Invasion Mag., o qual fiz sete edições e parei. Quando estava no número quatro do Crazy Invasion eu já havia me envolvido com bandas, como a minha primeira, a Insania, depois vieram Diarrhea, Interitus, Óstia Podre (sem H mesmo) e já iniciava os primeiros passos com o StomachalCorrosion. Minha motivação foi a de divulgar o que acontecia inicialmente na nossa cena local, em Campina Grande, mas com as chegadas de muito material de todo lado, fui incluindo nas edições seguintes do Crazy Invasion!

Abdução Extrema – Cara, eu tenho acho que todas as edições do zine Crazy Invasion! E me lembro de no início dos anos 1990, ter colocado uma matéria sobre o Intéritus no meu zine Thermic Inversion, acho que o meu contato na época era o Pablo! Acredito que de todas as bandas a que mais se destacou, ou se preferir, a que mais ficou conhecida no movimento foi o StomachalCorrosion! Sinta-se a vontade em nos falar a origem da banda, tanto quanto seus lançamentos até o momento:
Charlie Curcio - Apesar de eu ter iniciado o Interitus com o Pablo, ele é que tomou mais a frente da banda mesmo, pois eu era muito focado e compromissado com o Crazy Invasion Mag. E seu contato com o zine era mais com duas irmãs que me ajudavam. Certamente das bandas que me envolvi e iniciei, o StomachalCorrosion é o com maior longevidade e alguma notoriedade aqui e ali, pois sempre procurei divulgar bastante e ter bons apoios e amizades, mas como disse anteriormente, me decepcionei demais também com algumas pessoas, atitudes, comentários e incompreensões. O SC surgiu justamente no dia que decidi sair do Interitus, em janeiro de 1991, de lá até hoje tenho buscado colocar o nome da banda em todos os lugares que acho que tenham a ver com nossa proposta e que abram espaço para nosso trabalho. Lançamos poucas coisas até hoje devido às muitas mudanças na formação e minhas mudanças seguidas de cidade. De principal posso mencionar os splits com Jan AGx, Agathocles, a compilação Grindattack, nosso primeiro CD cheio Transtorno Obsceno Repulsivo, o LP12" split com o Disarm (o qual eu gravei baixo e vocal para o Disarm também) e recentemente uma fita cassete profissional lançada na Holanda, split com a banda DHM. Mas, valorizo cada participação em cada fita K7, CDr, CD, DVD e VHS (como na Grinder Brain Comp., lançado por voce).
Abdução Extrema – Muito bem, quais são os assuntos abordados em suas letras e qual sua postura ideológica?
Charlie Curcio - Eu sigo aquele velho posicionamento lírico do Punk, ou seja, protesto, contestação, neutralidade e revolta política, indignação com religiões e seus abusos, críticas à própria cena ou movimento Underground, mas sem deixar de lado a ironia e até o humor em alguns momentos. E estas são faces de mim mesmo no que diz respeito à minha postura ideológica. Vejo muita coisa ainda sem sentido ocorrendo dentro do nosso meio, como a parte de venda de materiais produzidos aqui, tipo os CDs, DVDs, zines, fitas cassetes e tudo mais. As pessoas parece que esquecem que existem custos, taxas abusivas aplicadas por órgãos como Receita Federal, Alfândega, etc. Parece que o quê é produzido no meio Underground é pago com alguma frase do tipo: Aqui é puro amor pelo Underground, irmão, não quero lucro! E a resposta seja apenas: Hail, irmão! Não precisa pagar, tudo pela cena!". Faça isso em um supermercado, Correio, açougue, ou ainda tente pagar a gráfica que faz os cartazes das gigs, o som e tudo mais com algum comentário de "amor ao Underground" e "abaixo o Capitalismo" para ver o que vem de resposta. Acredito que só com a compreensão de um justo comércio no meio é que as coisas melhorarão e ótimas pessoas não saem daqui para outros meios.

Abdução Extrema – Bem, aproveitando sua resposta, eu particularmente acho que existem preços realmente abusivos onde não deveria existir, mas também concordo com o que você diz sobre tudo ter um custo e sobre taxas abusivas. Vocês tem participado de muitos shows? Com quais bandas vocês tem tocado e por onde tocaram?
Charlie Curcio - No momento estamos em um constante processo de compor e gravar. Mas, dia 22 de janeiro faremos nossa derradeira gravação deste período, para nosso segundo CD cheio, que deverá sair pela mesma parceria que lançou nosso split Cassete com o DHM. Daí vamos ver se conseguimos fechar algumas datas em BH inicialmente e partir para outras cidades. Então, não temos tocado com nenhuma outra banda... hahaahah!! Mas, o baixo deste novo CD chamado apenas StomachalCorrosion (junto mesmo) será gravado pelo Rodrigo F., das bandas Holocausto, Certo Porcos!, Bode preto e PexbaA.
                                           
Abdução Extrema – Falando em shows, como estão as coisas nessa que foi a cidade berço do Metal no Brasil um dia, Belo Horizonte? Quais bandas, selos e zines você nos recomendaria?
Charlie Curcio – BH é um caso à parte, Mosh! Aqui parece que rola uma cena particular, com shows quase todos as noites em alguma casa pela cidade toda. Há muita gente boa aqui, posso indicar bandas como a conhecida Expurgo, Perceptor, Aka Funeral, Uraeuz, Holocausto (que voltaram com tudo), Impurity, TheEvil, Pesta, Certo Porcos!, Dops, Rastros de Ódio. De zines, só lembro do CAOZ, que está mais pra revista!

Abdução Extrema – Legal saber que o Holocausto está de volta! Além do Stomachal Corrosion você possui outras atividades paralelas relacionadas à cena? Me lembro que você tinha uma loja de disco: 
Charlie Curcio – Eu iniciei um projeto com ao Anderson, batera do Expurgo, chamado Tumour Regurgitate, mas está parado devido à falta de tempo por parte dele, que é sempre muito ocupado com o Expurgo, trabalho e família. Há uma proposta de um projeto Noiser com o Rodrigo F., chamado Stench of War, mas ainda sem previsão de fazer qualquer coisa que seja.... hahahaah!!! A minha loja era em Cambuí e a fechei em 2010. Hoje trabalho com a Cogumelo Records também.

Abdução Extrema – Sério? O que você faz lá na Cogumelo?
Charlie Curcio - Sim, trabalho com as vendas via internet e outras frentes, como revisões de algumas artes. Cuido da página do Facebook, do site e tudo mais que posso ajudar.

Abdução Extrema – Que legal Charlie! Voltando lá no comecinho do seu envolvimento com o underground aos dias de hoje, o que você considera que tenha mudado em sua vida? Você acredita que algo mudou? Acredita que de alguma forma, a cena possa causar mudanças na vida de uma pessoa? Na forma de encarar a sociedade por exemplo: 
Charlie Curcio – Ah com toda certeza! No começo rola muita pureza e inocência em acreditar no que já mencionei em relação às demais bandas, zines e tudo mais, mas com o tempo vamos aprendendo que a demagogia é algo inerente ao ser humano. Aprendi muito com pessoas no meio Underground, se sou quem sou hoje, devo isso 50% ao convívio neste meio, ao o quê tenho lido, conversado, ouvido e tudo mais. O que acabei atentando também, é que fala-se muito em tantas cosias, como em Liberdade, mas cria-se em contra-partida, regras e dogmas tão torpes quanto os que existem no restante da sociedade. E o importante é não esquecer de que também fazemos parte da sociedade, mesmo vivendo deforma aparentemente alternativa, nós utilizamos de muito do que as demais pessoas utilizam, como transporte público, locais para compras variadas, Correios, etc. Em relação á mim, posso dizer que sempre busquei aqui, neste meio Underground, a liberdade de ser como quero ser, de usar minhas roupas e camisetas de bandas como eu quero! Acredito que o visual ainda é algo preponderante e de certa forma importante como identidade visual e até libertária em vista do restante do social. É como diz o Cólera: Eles te obrigam a vestir social. No nosso meio não deve ser visto como uma obrigação usar o visual característico, mas uma mostra de nossa liberdade em nos vestir assim!

Abdução Extrema – Ainda como diz o Cólera, e muitas vezes: “Eles de dão a mão, te dão a mão, só pra empurrar”... Antigamente você sabe, era muito difícil de se conseguir discos e gravações, hoje em dia você pode conseguir qualquer coisa facilmente, de demos a CD’s, basta sentar na frente do computador e com poucos clicks você consegue baixar a discografia de uma banda, até mesmo raridades como demo tapes, ensaios e etc! O que você acha disso? O que você acha dessa modernidade toda e da cena de internet? 
Charlie Curcio – Sinceramente eu sou um cara que prego e procuro viver livremente até onde consigo. Não ligo muito para estas coisas de boicotar Internet, downloads, etc. Eu ainda sou do físico, de ter as fitas, os LPs, EPs, CDs, zines de papel, etc! Mas, quem quer baixar ou ouvir pelos sites... pra mim, isso não me importa e nem me esquenta. O próprio SC tem coisas na internet que eu mesmo postei, e outras que outros caras mandaram, e acho isso legal demais, é uma força que estão nos dando! Não há como cortar um curso como este da Internet. Vejo pessoas vindo ao Facebook reclamar que o Facebook é um veículo de bosta e que esta merda toda deveria acabar!!! É inocência ou piração mesmo? Hahaha!!Conheço muita gente que não gosta de Facebook e não tem perfis nem aqui, nem em nenhuma outra rede social. Outros não baixam nada de som, e eu sou assim, prefiro o físico, como citei acima! Pois assim, posso seguir ajudando as bandas. gravadoras e tudo mais!
Tenho ótima amizade com o pessoal da revista Roadie Crew, e na última vez em que estive com o Airton Dinis, o perguntei se a internet havia atrapalhado as vendas da revista física, ele me respondeu prontamente que "de forma alguma, a internet ajudou a divulgar mais ainda a revista e as vendas são maiores hoje do que antes"!

Abdução Extrema – Cara, eu particularmente baixo muitas coisas da internet! Não me importo se alguém boicota ou não mp3... Infelizmente não tenho onde ouvir minhas fitas k7, então me contento e muito com mp3. E verdade, tem muita gente que reclama das redes sociais como Facebook por exemplo, mas sempre estão por lá, não largam mão e nem excluem seu perfil... o problema em si não são as redes sociais, mas sim os sociais. Considerando a utilização da internet para a divulgação de bandas, shows, resenhas, reportagens e etc., qual sua opinião sobre os fanzines hoje em dia? 
Charlie Curcio – Daí te pergunto em contra partida: Quais zines? raramente vejo zines impressos hoje em dia. O que tem, e muito são os vários blogs. E sobre divulgação e tudo o que voce menciona muito bem, eu acho que as pessoas de hoje são preguiçosas, acomodadas e inertes. Se contentam em clicar no Comparecerei num evento de Facebook de algum evento real. Daí ficam esperando as gravações de celulares caírem no You Tube para verem como foi. É como voce falou, o problema não é com a internet em si, e sim com quem a utiliza. Lembro quando o CD do StomachalCorrosion "Transtorno Obsceno Repulsivo" saiu e no dia em que recebi as caixas com nossa cota eu mostrei para uns conhecidos e o que ais ouvi foi: Já tem pra baixar?

Abdução Extrema – Hehehe, que foda isso hein! Muito bem Charlie, chegamos ao final desta entrevista! Há algo mais que você gostaria de acrescentar? O espaço é todo seu... 
Charlie Curcio – Esta é a primeira entrevista que faço nesta nova fase da StomachalCorrosion, e legal demais que seja feita com voce, Mosh, velho camarada! O que gostaria de deixa aqui é que as pessoas deveria saber respeitar mais as demais. Isso cabe também, claro, no cenário Underground, onde se discursa muito e não se age nem 1% de tudo o que se fala. O respeito é um ponto muito forte e primordial para uma sociedade melhor, e não esqueçamos que fazemos parte da sociedade sim! Abraços à todos e obrigado pela conversa, grande Mosh!

Abdução Extrema – Eu que agradeço imensamente pela sua colaboração meu camarada, um abraço.



quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Entrevista Completa - Violent Noise


O STOMACHALCORROSION é uma banda formada em 91. Conte-nos como foi o início de tudo.
Charlie Curcio – Eu havia passado por algumas bandas e na última que toquei não gostei dos rumos que estavam dando a mesma, mesmo eu sendo membro fundador, então decidi sair e começar um trabalho como eu gostaria que fosse, algo que eu tivesse mais voz ativa e pudesse decidir como as coisas seguiriam. Nunca tive comportamento de líder ou dono da banda, dando voz ativa a todos que sempre passaram e estão na banda até hoje, claro que algumas viagens e devaneios que surgiram foram podados, como uma vez que uns caras que estavam na formação queriam que o SC virasse uma banda cover do Slipknot só porque, segundo eles, era a modo no Metal naquele momento. Voltando ao começo de tudo, realmente as dificuldades eram gerais, nãos tínhamos instrumentos, equipamento, nada. Lembro de um ensaio que nem palheta eu tinha (risos).

Vocês passaram por várias mudanças na formação no decorrer deste tempo. Como está o line-up do grupo hoje?
Charlie Curcio – Desde que voltei a morar em BH que a formação se mantém praticamente a mesma, pelo menos no núcleo de guitarra, bateria e o vocal. Tivemos algumas instabilidades com baixistas, mas com a entrada do atual, as coisas tem tido uma regularidade. Chegamos a ter a participação do Rodrigo F., das bandas Holocausto e Certo Porcos, para uma gravação e um material que saiu no 3-Way Nipshit (SC, Cleptophagia e Perfusion Blood). H0je estamos com a formação: Saulo nos vocais, Charlie na guitarra, Hash Golem no baixo e Fred na bateria.

Como se deu a escolha do nome e o que quiseram passar para o público?
Charlie Curcio – Mesmo quando eu ainda tocava nas primeiras bandas, Insania, Diarrhea e Interitus, que eu pensava em ter alguma banda com o nome tendo algo como Corrosão, Corrosion ou Corrosive, por sofrer grande influência do Corrosion Of Conformity e o disco Animosity. Então, uma noite que eu voltava pra casa completamente bêbado logo no dia que saí do Interitus, acabei pensando neste nome, StomachalCorrosion (sim, junto) e comecei a trabalhar nos sons, letras, logotipo, biografia, etc. O nome em si não tem nenhum sentido, é até um nome tolo, reconheço, mas acabou ficando com o tempo, e não tem nenhuma preocupação com mensagem ou algo assim, isso fica mais para as letras mesmo. Mas, confesso que nunca tive este pensamento de passar mensagens ou tentar mudar o pensamento de alguém, as letras são apenas um reflexo de algum momento de indignação tanto minha como de alguém que venha a escrever algo.

                                            

Quais as principais influências da banda?
Charlie Curcio – O SC é da época em que as bandas GrindCore estavam surgindo e era este meio que me fazia pesar em estar inserido. Reconheço que houve um pequeno pedaço de tempo que minha maneira de compor era muito baseada e bandas como Rot e Agathocles, Napalm Death antigo e Abominog. Mas eu mesmo e os caras que estavam nas primeiras formações fomos moldando o estilo e acredito que logo passamos a ter um estilo meio próprio, mesmo não apresentando nada de tão inovador e cheio de misturebas como algumas bandas fazem tentando criar algo novo e na maioria das vezes só apresentam um som sem pé nem cabeça. Por isso que eu já há muito tempo não sei se somos realmente GrindCore e nem sei se “os donos” do estilo nos aceitam como tal, mas isso não me preocupa nem um pouco.

Vocês já lançaram alguns materiais com bandas do exterior como AGATHOCLES e JAN AGX. Quais as repercussões deste tipo de lançamento na carreira da banda?
Charlie Curcio – Acompanho o Agathocles desde seu começo quando lançaram sua fita demo Cabbalic Gnosticism, e em 1994 lançamos uma split tape com eles. A repercussão sempre é a melhor possível, nos dois Split CDs procuramos gravar material novo e em estúdio, recebemos bons comentários tanto nos Split CDs como na fita de 96.


Vocês assinaram um contrato com a Cogumelo Records e irão lançar um CD. Como isso ocorreu? O que o público pode esperar deste material? Qual o nome do álbum?
Charlie Curcio – Conversando com o dono da Cogumelo, perguntei-lhe sobre a possibilidade de entrarmos para o selo,  ele me disse para prepararmos um material e o apresentarmos. Assim o fizemos e acabamos assinando o contrato para um CD que poderá ser lançado em outros formatos no futuro, como vinil e cassete. O álbum tem apenas o nome da banda, StomachalCorrosion, e vem com vinte e um sons mais uma introdução. É o primeiro material oficial nosso que conta com intro, eu particularmente não curto esse artifício no SC, mas principalmente nosso vocal, o Saulo, insistiu em incluirmos algo dentro do conceito de toda a arte da capa e encarte, e acabou dando certo. Ao meu ver este é um material muito bem feito e pensado por toda a banda, está muito pesado, rápido e em um estilo bem uniforme em todos os sons. A qualidade da gravação está muito fudida. Esperamos que os maníacos por som no nosso estilo curtam.

Underground no Brasil é?
Charlie Curcio – Levo a vida no meio underground muito a sério, e esta seriedade é refletida no meu trabalho em minha banda. Mas, ainda tem cara que acha que ter banda e fazer um zine, blog, site ou ainda organizar shows é brincadeira de moleque sem nenhum compromisso. Ainda aparece muito aventureiro metido a ”salvador da cena” pensando que fazer qualquer coisa de qualquer jeito é ser underground, podrão e estas viagens infantis. Ainda tem cara de banda mendigando palco em troca de ouvir “tô fazendo o favor de colocar voces pra tocar no meu show”. Ainda tem muito cara fazendo pouco caso de quem quer trabalhar sério, de armar um esquema satisfatório para todos no meio. Falta os caras acordarem para a realidade das coisas, saberem que só no dia que houver um entendimento e respeito no underground é que este meio será favorável para pessoas sérias e comprometidas permaneçam trabalhando por aqui. Ainda tem o velho caso de cara que monta zine, sites e blogs só pra receber material em troca de um comentário feito de qualquer jeito enquanto a coleção de material do editor só cresce e sem gastar nenhum centavo. De uns tempos pra cá até coisas de programelhos de TV tem ocorrido no meio underground, como sensacionalismos, documentários e vídeos que só trazem discórdia e intrigas por causa das trocas de ofensas por parte de pessoas que não sabem respeitar uns aos outros e se portam como os donos do estilo, seja Metal, HC, Grind, ou o que for.

Estamos encerrando nossa conversa. O espaço é de vocês. Mandem uma mensagem aos fãs e seguidores do grupo.
Charlie Curcio – Só posso agradecer pelas perguntas e o espaço para expor meus pensamentos com relação a alguns assuntos e apresentar a banda a quem ainda não a conhece e aos que já nos acompanham nesta trajetória corrosiva. E saibam, apoiar o underground não se resume a compartilhar mensagens e vídeos no Facebook e outros meios. Há de se saber que as bandas tem vários gastos constantemente para se manter, a criação de material é para tentar ajudar estes gastos. Se você gosta de determinadas bandas, compre seu material, vá aos shows e entenda que assim é o meio underground, esta é nossa cultura. Parem de boicotes e mimimis fúteis, vamos voltar a ter força e expansão, chega de tantas intriguinhas e futricagens.
Obrigado.

Contatos:
Facebook: Facebook.com/stomachalcorrosion



Entrevista Completa - Pagan Hammer Zine



Entrevista: STOMACHALCORROSION
Com: Charlie Curcio
Por: Hioderman ZArtan



01. Rapaz, quase duas décadas, ou mais, para eu entrevistar vocês novamente (risos)! E ai Charlie, comente ai um pouco desse retorno da banda aos estúdios, sendo que o SxCx é uma das lendas da nossa cena Grindcore, nem precisa muita apresentação, hehe!
Charlie Curcio – Pois é, meu velho, o tempo passa e a gente permanece firme no Underground, mesmo contra a vontade de uns (risos). O StomachalCorrosion deu uma parada em 2009 depois da apresentação no festival Roça’n’Roll, Varginha, e devido a umas mudanças na minha vida pessoal. Em 2013 voltamos à ativa, mas sem muito resultado. Só em 2015 é que as coisas engrenaram de vez, já em Belo Horizonte. Aqui os trabalhos tem sido constantes para tentar recuperar o tempo perdido e tem sido muito satisfatório. A volta aos estúdios se deram pra valer e alguns materiais tem saído aqui e ali.


02. Olhando aqui a discografia da banda, passou de 40 materiais lançados, dentre DTs, Splits, LPs, CDs, Compilações, etc., sendo que a banda foi formada em 1991 e o primeiro álbum oficial lançado foi o “Transtorno Obsceno Repulsivo”, em 2005, e, recente estão com um CDzão ai fudidasso. Como avaliar a estrada percorrida pela banda até os dias atuais. Satisfatória? Há algum trampo que vocês consideram que ficou acima do esperado e há outros que desejam regravar ou ajustar gravações com bônus em lançamentos futuros?
Charlie Curcio – Eu sempre gostei de incluir o SC em alguns lançamentos, mas primando em não colocar muito som repetido o tempo todo. Isso cansa os caras que pegam material por aí. Por isso, e devido às minhas mudanças de cidade e de formação da banda, que não temos muito material lançado e o primeiro CD cheio nosso só saiu em 2005, justamente o Transtorno... O novo CD, chamado apenas StomachalCorrosion (sim, escreve-se junto mesmo), vem depois de trezes anos de muita letargia e agonia para tentar fazer algo de qualidade, e considero que conseguimos. A atual formação conta com caras experientes. O Fred, batera, já tocou em outras bandas, como a grande Mata Borrão, banda clássica em BH. O baixista, Hash Golem, já foi do Impurity e rodou em outras bandas. Só nosso atual vocal que está debutando em bandas, mas é um cara que já está no cenário há alguns anos e tem contribuído muito com sua maneira de enxergar a música pesada. Sobre materiais que pense mereçam um nova chance (risos), vejo os sons do CD 5-Way Grindattack como os que precisam de regravações, tanto que neste novo CD incluímos um som deste CD, As a Kick in Your Head.


03. O Split com o Agathocles, pra mim um dos CDs mais fodas já lançados, pois reúne duas lendas. Como surgiu o convite e após, rolou algum convite para tour com os caras ou algo na linha?!
Charlie Curcio – O lance todo começou quando o Jan me pediu para resgatar um material que estava nas mãos do Altemar Pereira, que seria um LP ao vivo, o qual chamaria Live in Stavenhagen. Entrei em contato com o Altemar, peguei o material e sugeri um Split, pois estávamos para entrar em estúdio, mas não tínhamos uma quantidade suficiente de sons para um CD cheio só nosso. O Jan, agindo estranhamente aceitou fazer um Split (risos). Ofereci o material para alguns selos, que, pra variar, já tinham uma quantidade enorme de lançamentos previstos e não poderiam nos lançar (esta é uma constante na história do SC), até que o Sérgio Giacomassi, aceitou lançar pela sua No Fashion Rec. Em conjunto com a Heavy Metal Rock. Sobre ir à Europa, não, não rolou nenhum convite pra ir por lá. E também nem tínhamos grana para tanto, portanto nem pensamos nisso.


04. Sim, falando em tour, o SxCx já fechou alguma data de tour fora do país? Como você avalia essas parcerias de bandas para fazerem tours ou até mesmo as “agencias undergrounds” atuais que estão a auxiliar as bandas neste sentido?
Charlie Curcio – Já cheguei a pensar muito em tocar na Europa, mas acho que ir só por ir, e não ter uma constância acaba entrando no esquecimento dos caras por lá. O legal é fazer um nome no continente primeiro, lançar e mandar material aos montes por lá. Nós nunca tivemos uma expansão boa por lá, imagino eu, então ir, passar um perrengue desgraçado, gastar dinheiro que nem temos direito, constituir dívidas na volta e nunca mais voltar para novas turnês, não vejo viável para o SC. Quem quiser fazer estas coisas, que o faça e seja muito feliz, falo por mim e por minha banda e os caras que estão comigo nela. Sobre as agências, bem, tem uns caras sérios, mas tem uns que mandam proposta que só em ler já desisto, pois o esquema de certos caras é tão tosco que é como se eles dissessem algo assim: Olha, eu conheço uns caras lá na Europa, vou dizer que voces estão indo pra lá, eles vão tentar colocar voces em alguns shows, mas não é certo. Certo mesmo é que voces terão que pagar todas as suas despesas de ida e volta, e também as minhas, como passagens, estadias, rango, traslado, etc. Ou seja, uns caras arrumaram um meio de fazer turismo às custas de uns mendigos de palco. Isso comigo não cola, mas mais uma vez digo: quem acha que estes esquemas são viáveis que sigam em frente e que tudo seja legal para todos.


05. Cara, o que tu tens ouvido atualmente de bandas que você poderia indicar? Tipo, eu creio que muitos têm a visão de que o cara toca um estilo e só ouve aquilo direto. Eu mesmo curto uns progressivos e até uns harsh antigos, ou seja, curto conhecer novos estilos, mas, o SxCx foca única e exclusivamente no Grindcore para criar as linhas de suas músicas?
Charlie Curcio – De bandas eu realmente ouço muita coisa. Quando comecei a ouvir música pesada não existiam os sons mais extremos que temos hoje e de uns tempos pra cá, então aprendi a “acumular” boas bandas para ouvir, sendo assim posso dizer que ouço de KISS e Iron Maiden, até Napalm Death e ExNxTx, de Holy Terror a Discharge, passando por Ultra Passiv, Accept, The Mist, Sarcófago, Psychic Possessor, e por aí vai. Sobre a forma de compor... cara, confesso que por um pequeno período eu me influenciei demais por algumas bandas, e cheguei a pensar que o SC poderia estar inserido no nicho destas bandas, o que me rendeu alguns comentários pejorativos como parecendo uma cópia de algumas delas. Mas, com o tempo a gente vai crescendo, vai amadurecendo e largando as infantilidades de lado. De um bom tempo pra cá acredito que entendi o que a banda exige não só de mim, que componho boa parte do material, como dos demais membros, e nos situamos melhor na forma de fazer todo o material, procurando estar no que é nossa própria identidade, sem querer estar pendurado no saco de nenhum falso ídolo do underground.
  

06. Essa é clichê mas, vocês tem outros projetos musicais além do SxCx?
Charlie Curcio – Eu já tentei começar uns projetos, mas não foram à frente, então de dedico exclusivamente ao StomachalCorrosion. Os demais caras eu acho que também não tem nada sério. O nosso baixista vez por outra toca em umas bandas. Todos somos muito concentrados no que o SC faz hoje em dia.


07. A formação atual do SxCx está fixa?
Charlie Curcio – Espero que sim (risos). Somos hoje: Saulo nos vocais, eu, Charlie, na guitarra, Hash Golem no baixo e o Fred na bateria.


08. Rapaz, e esse box set ai via Cogumelo Records? Como surgiu a ideia e, quais os atrativos deste lançamento?
Charlie Curcio – Eu trabalho na Cogumelo e tenho muito orgulho disso. Em algum momento em nossas conversas, joguei a proposta ao João Eduardo dele nos contratar, ele disse pra fecharmos a formação, compormos um material novo e mostrar pra ele. Isso junto ao fato de que, segundo ele mesmo, todo o material da banda que chegou na loja fora vendido, nenhum encalhou e também por sermos uma banda antiga, já rodada, com o nome consolidado no cenário e tendo aparecido em muitos lugares, isso ajudaria na questão de divulgação e apresentação deste novo CD. Sobre atrativos, o CD vem com vinte e um sons, uma arte simples, mas muito fudida feita pelo talentosíssimo Fernando Drowned. E contará com uma edição especial em cem peças de uma caixa de madeira com um CD, uma camiseta exclusiva, um adesivo e um pôster. É algo bem legal e meio raro para uma banda Grind do Brasil. Sei que alguns caras estão torcendo seus narizes para estas coisas ao nosso respeito, mas estes mesmos caras são os que pagam caro por um mero compacto de uma banda gringa. São os mesmos que criticam o preço de uma fita profissional importada, mas acham legalzinho pagar caro por qualquer coisa de alguma banda de fora e ainda postam no Facebook todos cheios de orgulhinho por ter conseguido tal material. 

  
09. Destes 21 sons, são todas composições suas? Qual a temática lírica abordada neste CD? Pergunto, pois, em se tratando de GrindCore, logo vem à mente ser somente a barulheira/tosqueira de garotos de 15 anos tocando feito loucos, kkkk!
Charlie Curcio – A maioria dos sons foi eu que compus e escrevi as letras, mas há música e letras de todos. E não costumo nomear cada faixa com o nome de quem compôs e escreveu a letra, ao meu ver tudo é um trabalho conjunto e pertence à obra da banda, não de uma pessoa só. Sobre os temas, temos de tudo um pouco, como críticas sociais, ironias ao meio Underground, fatos ocorridos no Brasil recentemente, como o homicídio em Janaúba. A barulheira tosca a que você se refere, deve ser quanto ás bandas Noise Core, certo? Este é um estilo que não estamos inseridos, mas é um que caminha meio que em paralelo ao Grind sim.

10. Certamente que um trabalho tão primoroso deste, e, sendo que as caixas/boxs estão sendo confeccionados no velho D.I.Y., acho massa demais isso..., essa tiragem mínima seria pelo alto custo ou por representar somente por vocês terem a noção que estas poucas são o suficiente? Ou seja, “quem pegou, pegou, quem não pegou, dançou?!”.
Charlie Curcio – Os custos de produção destas caixas especiais são altos, demanda tempo e dedicação constante. Tudo é sempre feito por mim, pinto à mão todas, mando fazer os adesivos, os pôsteres e os corto um por um. As camisetas eu que aprimorei o desenho, acertei com a serigrafia que as imprimiu, e também dobrei todas e vou colocando dentro de cada caixa com os demais itens. Ou seja, Faça Voce Mesmo realmente. Sobre a quantidade, acho que cem peças é o suficiente e as pré-vendas sempre ajudam a viabilizar a produção, e confesso que quem pegou pegou, quem ficou pra pensar e ver com calma e mais pra frente, o famoso “fica pra próxima”, vai ficar sem mesmo. Mas, estes nem devem ter interesse neste lançamento, como eu já disse anteriormente, este caras sempre tem outras bandas melhores pra investirem.

11. Você citou algo que tenho ouvido muito ultimamente: “Já estou envolvido com muitos lançamentos”; mas, o que mais vejo são lançamento cooperativos, eu mesmo fiz muitos com parceria de oito selos ou mais. Você acha que este tipo de lançamento cooperativo é valido para a banda? Visto que, para os selos fica muito limitado pois o que é de certo é que divulga muito, mas, os selos ficam regrados a poucos pontos pois sendo muitos selos, maior o alcance do mesmo em questão de regiões.
Charlie Curcio – Cara, eu acredito que cada um na sua, se alguém acha que fazer cooperativas é uma boa, que as faça. Não vejo problema nenhum em um dia o StomachalCorrosion entrar em um esquema de lançamento por vários selos. Mas, confesso que antes de receber a proposta da Cogumelo meu pensamento era de ficarmos independentes e lançarmos e distribuirmos nossos lançamentos, como temos feito com algumas camisetas, a cassete Kaos em Betim e o 3-Way Nipshit (SC, Cleptophagia e Perfusion Blood). Isso justamente por eu ter cansado de oferecer o trabalho de minha banda a muitos selos e receber a mesma respostinha de sempre. Se não tem interesse por minha banda, eu mesmo me viro e faço como puder. Nestes tempos em que tudo ofende e traumatiza esta geração de isopor, é melhor ficar quieto e trabalhar sozinho, do que mandar um FDP diferente se fuder todos os dias.

12. Meu amigo Charlie Curcio, agradeço imensamente a boa conversa e por ceder um pouco de seu tempo para responder esta humilde entrevista, agradeço e deixo aqui o espaço para o amigo relatar algo mais que tenha interesse...!
Charlie Curcio – Muito gratificante voltar a responder uma entrevista sua, meu velho camarada Hilderman. Voce é um cara que sempre apoiou o StomachalCorrosion, mesmo não podendo sempre, mas vez por outra arruma uma maneira de ajudar. Eu que agradeço a você, ao Sandro e ao fudido zine pelo espaço para colocar minhas falas, que nem sempre são satisfatórias para falsos, fracos e derrotados, gente que se esconde em suas máscaras hipócritas e cheias de regrinhas pífias, boicotes infantis e discursos recheados de escrota demagogia. Sim, a corrosão segue seu curso. Abraço e vamos em frente... Sejam Felizes!

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